Qual o futuro das profissões criativas? 

As profissões criativas, aquelas que utilizam o raciocínio, a imaginação, a inovação e a expressão individual para desenvolver produtos, serviços ou ideias, são cada vez mais associadas à lista de atividades ameaçadas pela tecnologia.

Isso ocorre porquê, ao longo dos anos, novas ferramentas digitais são criadas e aprimoradas, não apenas para facilitar, mas também para substituir certas tarefas manuais. Com o avanço contínuo e acelerado da Inteligência Artificial (IA), esse realidade ganha mais força a cada dia.

No entanto, embora caminhem em direção a esse cenário de transformação, as profissões criativas estão passando por diversas adaptações e reformulações de processos, para prosperarem na era da criação automatizada.

Ao analisarmos áreas como a escrita e o design, campos que, com suas diversas especializações, estão presentes em setores que vão das agências de publicidade às artes e à tecnologia, percebemos que esses ofícios são cada vez mais impactados pelas IAs.

Inicialmente anunciadas como ferramentas para facilitar o trabalho, essas tecnologias passaram a ser vistas com preocupação diante de previsões mais pessimistas, que apontam para a possível substituição total de profissionais. Em alguns casos, isso já é um fato. Porém, a medida que a IA faz certas funções se tornarem obsoletas, ela também cria novas áreas de atuação, e consequentemente, novos espaços no mercado de trabalho.

O desenvolvimento da IA generativa, que é capaz de criar novos conteúdos de texto, imagem e áudio, teve início ainda nos anos 1980, impulsionado por avanços nas redes neurais e no aprendizado de máquina, ainda que de forma bastante rudimentar em comparação ao que temos hoje.

A partir de 2010, essas (e outras novas) tecnologias tornaram-se mais eficazes e realistas. E a partir de 2022, com a popularização de interfaces acessíveis ao grande público, o uso da IA explodiu e passou a ocupar espaços no mundo doméstico e corporativo.  

O novo funcionário é o “ChatGPT” 

“A IA talvez substitua, em alguns processos, a ação final da criação de uma peça de design, por exemplo”, afirmou Thiago Gringon, professor de criatividade e inovação na ESPM e especialista em design, neurociência e entretenimento, em entrevista ao portal Guia do Estudante, em 2022.

Quando questionado sobre as perspectivas para os profissionais criativos frente ao avanço da inteligência artificial, ele defendeu que isso não significa a substituição completa do trabalho humano. Para ele, e para muitos que compartilham dessa visão, a IA deve ser vista como uma ferramenta complementar ao processo criativo. “A lógica nos leva do ponto A ao B, mas a imaginação a qualquer lugar”, concluiu. 

Essa parece ser a visão mais reconfortante para quem trabalha profissionalmente com criatividade. Basta acessar uma das muitas plataformas de IA escrever um prompt (comando ou pergunta) e aguardar o resultado.

Apesar da assertividade das respostas, profissionais mais atentos e qualificados são capazes de notar a diferença entre um conteúdo gerado por inteligência artificial e outro produzido por um ser humano.

Em geral, para que o resultado da IA seja satisfatório, é necessário que o usuário forneça feedbacks positivos ou negativos, que interagem diretamente com o sistema de aprendizado da ferramenta. As tecnologias evoluem, é verdade, mas os mais otimistas acreditam que a presença humana vai continuar sendo essencial na criação de conteúdos autênticos. 

No entanto, um problema já relatado, principalmente por artistas, é o chamado “roubo” de direitos autorais. Afinal, as inteligências artificiais são treinadas com base em grandes bancos de dados (nas mais variadas linguagens) e, sempre que geram um conteúdo, replicam de alguma forma processos criativos de um ou mais autores.

Essa é uma questão delicada, ainda pouco debatida fora das bolhas profissionais, mas que pode gerar grandes conflitos e exigir uma discussão sobre a necessidade de regulação. No fim das contas, tudo que envolve IA ainda é bastante especulativo, e o que muitos conseguem fazer, por ora, é apenas tentar prever os caminhos que esse cenário irá seguir.